sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
O som do silêncio
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Atividade matinal
Pedaços
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
Como meu coração se comporta
O que cresceu?O que cresceu?O que cresceu e dentro de quem?Primeiro foram simples os votos.Depois o coro cantou.Seus ombros.Meu porto seguro.Como a água perdida no mar.
O coração frio vai estourar se subestimado primeiro.E um coração calmo vai partir quando ficar abalado.
Eu sou um tronco agora.Deixando a seca de lado.Receptivo.Soprando em meus olhos castanhos sobre a balsa, que faz as ondas balançarem radiantes.É assim que meu coração se comporta.
O coração frio vai estourar se subestimado primeiro.E um coração calmo vai partir quando ficar abalado.
Como o coração dela se comporta.A chuva me fazendo chorar.Como o coração dela se comporta.Logo o vento vem soprando em meus olhos castanhos.Como o coração dela se comportaAs ondas balançam, as ondas balançam.É assim que meu coração se comporta.
O coração frio vai estourar se subestimado primeiro.E um coração calmo vai partir quando ficar abalado.
O que cresceu?O que cresceu?O que cresceu e dentro de quem?
domingo, 20 de junho de 2010
O que há além da inocência.
É só apenas um momento, ele está ali por mim. Estável. Estático. Tão bonito assim visto como se coubesse nas minhas mãos. Como se eu pudesse alcançá-lo. Tão bonito nessa distância segura. Eu juraria poder alcançá-lo. Quando ele se despedaça por mim. Quando finge prazer em meus sorrisos. É tão estranhamente belo. Me pergunto o que fiz? O que fez? Durante todo esse tempo. Somos apenas peças separadas por dedos que nunca alcançam. Mas isso é seguro pra ele e pra mim.
Nossas peças se espalham em mesas alheias. E ele continua sempre por mim. Embriagando-se em beijos alheios. E me pergunto se ele estará ali por mim realmente. Deitado. Imerso. Sal a cobrir meus sonhos. E areia que esse vento não trouxe mais. Eu precisaria de um pouco de afeto pra me cobrir de beijos salgados. Aos olhos de todos uma mulher a se despedaçar. Espero que ele me traga de novo algo menos dolorido.
É apenas desejos que se somam. Dão lugar a estranhos. E já não são nada mais além de palavras minhas. É ele além de mim. Projetado por meus desejos. Um amor a se despedaçar. Aos meus pés se desdobrando. Danço uma música que somente eu conheço. Canto tristezas distantes. O mundo aos meus pés. Ele chora e se contorce. Tão bonito assim, com olhos de sentimentos alheios. Sofrendo as minhas dores. Tomando pra ele todo o meu peso. Pede pra que eu não seja mais ausente, mesmo nos meus momentos de loucura. Que não fosse antes de devorá-lo por inteiro. E me pergunto se há ele além de mim.
Olhando assim penso em todas as conseqüências que o causei. Todo o mal. E me sinto encantadoramente desprezível. Como sempre fui aos olhos de todos que se envolveram com meu perfume. Simplesmente não entendo o porque dele permanecer ali. Só posso admirá-lo por permanecer quando todos já foram. Por vê-lo tentar me tocar sem se machucar. Tentar me provar sem que seja envenenado mais uma vez. É tão tolo. Tão bonito que até poderia amá-lo.
Por amor a si
Rosas vermelhas na cama. Em menos de uma semana estariam murchas. Em menos de dois dias seriam esquecidas. Jogadas sobre alguma mesa. Dentro de algum jarro. No aparelho sanitário. Sem criar raízes. Vínculos e fungos.
Mais bonitas em outra cama. Entre outros lençóis. Não combinam com a cor das paredes. Não perfumam o ambiente. Presente. Melhor dar a alguém. Combinavam com os olhos de Carolina. Sim, combinavam com os olhos dela. Talvez durassem mais sobre o olhar castanho-avermelhado.
Uma semana ou mais. Quem sabe um jarro grande. Numa mesa de jantar. Atenções e elogios. “Rosas bonitas. Quem te deu?” Orgulharia a qualquer um. Seria dona do crédito de dar rosas bonitas. Um obrigado. Um sorriso. Um comentário. Ficariam bem melhores. Ela e as rosas. Carolina e as rosas. Um grande presente.
Mas Carolina tinha marido. Carolina tinha Gustavo. Gustavo sempre trazia algo para a mulher. Diversas rosas. Diversas cores. Diversos presentes e elogios. E Carolina se derretia. Não seria nada a fazer diferença. Rosas vermelhas entre outras. Entre tantas outras vermelhas. Eram apenas mais rosas. Nem seria uma grande surpresa. E os elogios não seriam mais presentes. O que é natural passa despercebido.
Mas aquilo não seria natural para Gustavo. Um tanto ciumento. Um tanto inseguro. Perguntaria engolindo dois goles de paciência: “Quem te deu isso?”. E Gustavo nunca acreditaria. E Carolina ficaria nervosa. Enrolaria as palavras. Enrolaria as mãos entre as rosas. Os espinhos a furar a pele. E ela, desconcertada, a jogar rosas mais vermelhas no lixo. Tentando agradar o marido. Tentando acalmar sua impaciência com beijos.
Então é melhor não. Melhor achar outro alguém. Colocar na porta de um desconhecido. Passar adiante, antes que o tempo passe. Antes que fiquem murchas. Antes que morram sobre sua cama. Sem criar as raízes necessárias. Sem receber os elogios que mereciam. Mas Maria não sabia. O que faria?
As rosas não combinavam. Ela e as rosas. Uma sem poder agradar a outra. E agora elas ali sobre sua cama a colorir os seus lençóis de uma maneira quase invasiva. E Maria não sabia o que era necessário. O que seria necessário para ela mesma aceitar. Ela mesma querer as rosas que haviam sido dadas a ela por ela mesma.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Álibi
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Doce Enchente
Uma rosa girava ao redor de um pequeno monte de lixo. Tentava cantar. Tentava dançar. Girar. Girar. Até alguém vomitar. Vomitaram as lembranças e ela parou de girar. Já não fazia sentido. E a rosa que segurava sua boneca, achou no lixo explicações para a chuva. Era apenas fantasia de uma menina de rua. Era apenas uma boneca com os cabelos desgrenhados. Aquela de olhos arregalados e boca cerrada. Aquela que podia se chamar Lorena. Luana. Letícia. E ninguém saberia.
Uma a mais. Uma a menos. Pedindo esmola. Sujando as ruas com seus passos. Enchendo a cidade. Com pés descalços. Com pés sangrando. As ruas sujando. Ninguém limpou suas fraldas quando nasceu. Nem ela chorou por isso. Nem haveria porque chorar. Era uma menina grandinha saberia suportar o próprio peso. A falta de peso. Magricela. Olívia. Olga. Alguém que ela fantasiava ser. Menina. Mulher. Carregava a filha. A boneca que tinha nome. Que era mais alguém que ela própria.
Olívia. Lorena. Letícia. Olga. Luana. A menina girava e tentava se entorpecer com o cheiro do álcool alheio. Com a cidade fazendo sombra e se inclinando sobre ela. Era como se fizesse parte daquele cenário. Um prédio. Uma árvore. Algo que não falava. Gemia. Sentia. Uma boneca carregando outra mais humana. A cidade lhe ouvia. Os seus grunidos. Os prédios rangiam. Respondiam. E ela seguia dançando. Andando. Balançando o corpo até ele pender em algum canto.
Parecia feita de pano. Concreto armado. Janelas de vidro. Prédio tão alto que não arriscaria olhá-lo por tanto tempo. E tempo correndo em forma de dinheiro, quando era dia. E a cidade inteira se enchia de papéis. Panfletos ao chão. Mulheres produzidas. Em larga escala. Em série. Andavam. Pessoas esbarravam no seu corpo e nem sentiam. Pois o tempo corria. “Parar é desperdício. Cada um tem seu ofício.” Homens de gravata. Mulheres perfumadas. E ela tão desgastada estava. Vestido velho demais pra se encontrar em vitrines.
Os seus dias não passavam. Ela não saberia seus anos. Nem o ano em que estava. Os sapatos já apertaram. E ela os jogou numa esquina. O vestido já não era longo. Mostrava suas pernas finas como galhos. E ela girava como folhas. Com o vento passando. Seus dias voando. Inconsciente. Inconsequente. Inconsistente. Envelhecia. Criava rachaduras. Sorriso amarelado. Unhas quebradas. Ana. Paula. Joana. Carolina.
Quando morreu. Sua identidade nasceu. E todos souberam que ela era apenas mais uma Maria. Uma Maria que escorria como a chuva.
Cinzas
Eu queria ver o céu se enrolar. Dançando com o outono com as folhas e os lençóis estendidos. Como uma menina a girar. Olhando pro céu, vendo ele se enrolar. Se enrolando nos lençóis. Caindo em folhas. E olhando todo aquele cinza cabendo em minha mão. Por entre dedos o sol. Por entre nuvens.
Eu pensei ser um sonho aqueles anos. Toda aquela vida. Em que outonos e invernos se misturavam num céu sempre cinza. E quem sabe eu não esteja vivendo assim no sonho de alguém. Alguém que se balança em uma rede num dia ensolarado.
Vento
e é tão difícil acompanhar aquela música, esse ritmo que toca, que faz doer.
e agora sinceramente eu queria ser mais um pouco de você para que eu podesse me ver um pouco mais.
distante.
assim quem sabe eu poderia me sentir um pouco menos pesada.
e não seria eu responsável por tudo o que se situa entre mim e você. entre você e além de mim.
é um ritmo. sempre os mesmos acordes.
as mesmas batidas nos mesmos locais mais inflamados.
o mesmo toque numa intensidade diferente.
tudo se repetindo.
uma orquestra infernal tocando desafinadamente poemas.
e quando eu acho que estou entediada
meu pequeno clown me faz entender...
que a dança continua mesmo com meus restos ao chão.
que o teatro é sagradamente patético.
que não se há mais nada a desejar
além de projeções alheias em paredes inclinadas.
há uma mulher ali vagando
esperando quem sabe quem
esperando um lugar a pertencer
ela tem vestido rodado daqueles que balançam com o vento
e tenho inveja do seu caminhar
se eu podesse eu a tocava
aquela mulher que desliza entre as calçadas
e que faz um som a mais naquele mundo
ela balança mas não reage
é como um galho daquelas árvores que sempre vejo em sonhos
apenas esqueço... e já não sinto mais.
mais nada
além de mim sem você.
domingo, 23 de maio de 2010
O faz de conta
Estou de volta ao meu próprio tempo. Meu relógio me mostrou que as horas as vezes passam tarde demais. É tarde demais. Pensei que fosse só um sonho um tanto real. Essas coisas impossíveis de acontecer agora fazem parte da minha rotina. O real se confunde com meus pensamentos turvos. Minhas lembranças brincam comigo. Me vendam. Me giram. Me causam náuseas.
Isso é tão bonito. Toda a diversão que isso pode causar. Só depende do que você acredita. Mas, de repente, acredita-se no que nunca acontece. Por querer. Por esperar. Fecha-se os olhos. E se joga no precipício só por acreditar. Podemos voar.
Pessoas viram fadas. Homens príncipes. As bruxas são sempre as mesmas.
Infelizmente. Não há valor nenhum no feliz pra sempre. Ele não passa de metas e objetivos que nunca se alcança. De um céu enrolado envolto por nuvens pesadas. Quem sabe ali, além, alguém me espere com um trono e uma taça. Ali no começo do arco-íris que se formou depois da última chuva, dizem que há um tesouro. Quem encontrá-lo poderá ver o seu feliz pra sempre acontecendo.
Mas meu pêndulo decidiu parar de novo. Acredita?
Ignore
Vou vomitar um pouco. Então não ponha os meus talheres. Não me reserve aquele lugar na mesa. Chame algum amigo seu. Alguma amiga mais íntima. Hoje eu estou intragável. Então não me beije. Não me olhe assim. Apenas não me abrace como de costume ou tente fazer graça com as mesmas piadas. Não tente fazer graça nenhuma. Porque hoje eu vomitei nos meus próprios pés. E continuo com essa ânsia. Esse mal estar. Esse mal estado. Sentada em uma cadeira qualquer quero passar o resto desse instante. Eu acho que tenho esse direito.
Sinto muito por não poder contribuir com seu sorriso hoje. Por apagar um pouco o seu brilho. Não queria chamar atenção. Apenas me reservei pra hoje. E não quero jantar o meu próprio vômito. Não insista em por a mesa no ângulo que eu gosto. Não se importe de colocar as flores visíveis. Melhor, nem compre flores. Ando um tanto enjoada de perfumes. Ando um tanto enjoada. De tudo um pouco em muito me enoja.
Eu concordo que o esforço é inútil, quando não se tem compensação. E hoje estou assim descompensada. “Uma loucura leve e doce faz bem de vez em quando.” Me disseram isso quando a sala se inclinava para atingir um novo ângulo. Um novo ponto de vista. Uma nova vista. E a conversa muda de assunto. Ou se muda a conversa pra se iniciar uma discussão. E não quero realmente isso. Esse falatório todo. Essas vozes invadindo o meu silêncio. Tentando colocar explicações na minha vida “errante”. Não se pode isso e aquilo se não fizer o outro.
Acho que deliro. É só um delírio, sim. De certa forma sempre foi. O que não é real pra você, faz todo o sentido pra mim. E não só isso. Aquilo também é importante. Não vou me colocar a prova... não me coloco em prova por qualquer pouca coisa que seja. Intensamente. Preciso que me diga que isso não é mais só eu. E que você entende perfeitamente o que quero dizer. Essa falta de sentido talvez me faça sentir importante quando escuto “eu entendo.”. É simples. Eu nunca disse que seria completamente complicado.