terça-feira, 15 de junho de 2010

Álibi

Eu tive medo. Ontem dormi. Ontem cai da cama. Tive pesadelo. E depois insônia. Agora tenho medo que meu pesadelo não me dê apenas insônia. Dor de cabeça. Remédios. Pra dor. Pra dormir. Pra esquecer.
E sobre o que era o pesadelo? Falta de memória. Não lembro. Se for dor de cabeça tudo bem. Mas tenho medo que vá ficar fixo essa idéia de insônia. Que vá se fixar em mim os efeitos colaterais dos remédios que tomo para dormir. Para parar a dor.
Quem sabe ela pare aqui hoje. Quem sabe tenha cansado de andar por ai e deseje voltar hoje. Sem lembranças de ontem. Talvez ela lembre de mim. Eu queria abrir a porta e vê-la entrar e tomar algo com pernas cruzadas. E dizer algo com jeito de quem realmente não se importa com o que diz, com o que faz.
Ontem ela entrou pela porta da cozinha. Ontem ela jogou vinho no meu rosto e gargalhou como louca. Cantou e dançou. Gritou. Ria e chorava descontrolada. Então ela saiu pela porta da cozinha.
E eu fiquei com esse gosto de vinho acre na boca. Por ela ter entrado de repente. Fazendo todo o seu escândalo, que é natural de toda mulher. Por ela partir assim de repente. Jogando vinho no meu rosto. Fazendo com que lágrimas se misturem ao vinho. Estragando minha noite e apodrecendo o meu dia. E por ter medo de perdê-la, tive pesadelo.

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