quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu sei, eu só deliro...

Palavras de loucura soam melhor em silêncio. Palavras e loucura e pensamentos não combinam com meu vestido amarelo. Essa loucura toda só me deixa a deriva em volta do que eu realmente quero. E quando quero nem penso. Me jogo. E como boneca de pano... Bonecas de pano sempre sobrevivem a queda. Costuras e remendos e velhos olhos novos. Estou pronta para um novo início feito de retalhos encardidos. Porque tudo me parece um grande ciclo. Uma grande roda gigante enfeitada de luzes de cores profundas... ou talvez sejam só meus olhos que se aprofundam em cores e luzes. Elas parecem mais interessantes desfocadas. No meu enfoque desfocado. Luzes são profundas e cores num mar de luzes.
E voltamos novamente a loucura. Aquela que se escorre sobre mim. E que me faz sentir assim. Ou quem sabe seja só eu tentando fazer sentido em algo. Perante um todo sou apenas mais uma a andar na contramão. São muitos os estranhos assim como eu. Diferentes de mim. Em contradição a contramão é só mais um caminho a seguir. As roupas minhas guardadas em um guarda-roupa desconhecido. E o meu cheiro no pescoço de um homem que nem sequer sabe o meu nome. O meu perfume não é meu. As minhas roupas estão na vitrine e quem quiser pode ir comprar. E é claro que a vendedora não irá mencionar o meu nome. Não me usará para fazer uma propaganda. É para isso que servem as modelos.
Embora eu seja mais uma. Fico com esse ar de ser diferente. E escrevo como se fosse diferente. E me comparam com um ou outro. E dizem que minhas frases são adaptações de um terceiro. E eu me esforço, porém acho que é realmente em vão. Até tento falar diferente. Mas a maneira que falo me denuncia e me coloca no meu grupo de estranhos comuns. Embora ache que não pareço muito com eles, insistem em dizer que sim. E quando digo que não, escuto mais vozes dizendo que não. O sim. O não. Não há escapatória para mim. Sou alguém. Mais um alguém a fazer parte disso. Mesmo que não queira. Outros também não querem.

Arpejo

O meu arpejo me cercou. O agora em notas que me envolvem e me tocam em acordes que me envergonham. É voz em tom suave que chega perto do ouvido. Eu a ouvir os teus cantos. Se me enlaço em teus braços é pra não cair em prantos.
A minha vida é ligada a tua por fios invisíveis. Assim prefiro. Fios que não sejam notados. Meu ponto fraco. Minhas notas agudas e graves... retiradas de mim em um só toque. Toque de novo a mesma canção. Aquela que já estamos cansados de ouvir.
O cansaço me faz lembrar que nossos dias são muitos, embora poucos se estendam, poucos se emendam. Fios amarrados e fios a fazer cócegas é assim que será. Meu pescoço enlaçado. Vermelho te chama a atenção. Mas sei que prefere algo como branco. Puro. Leve. Como deveria ser as minhas mãos a tocar algo. Uma sonata para um piano.
Mas não sei tocar nada. Nem ao menos te tocar. Quando toco não sei se devo ser intensa ou preguiçosa. Se te deixo em sono. Me preocupo que durma. Embora queira que durma em meus braços. Embora pense em acordar nos teus. Mas sono assim nessas horas me deixa em agonia. Me deixa mais que inquieta. As horas passam sem que eu sinta. E eu sinto apenas a tua falta.