segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Atividade matinal

Coloquei minha vida na vitrine para ver quantos paravam. Como se fossem cegos eles continuavam andando como cegos. Pisando e passando. Não olhando e não ouvindo. Não se aglomeravam apenas fluíam e desciam. Pelas ruas. Em passos largos e inseguros. E eu ali parada segurando minha vida para ser vista. Ninguém escutava. Eu também pensava. Eu também não pararia.
Eu tive cinco anos um dia. Assim como todos que tiveram seus cinco anos. Nem era diferente da maioria. Vestia roupas de menina, pois era menina. Conversava com meninas, porque era menina. E tentava me comportar como menina. Não bagunçar para não suar. Sentar retinho e não falar palavrões. Fiz cinco anos como a maioria faria. Festa de aniversário. Bolo e parabéns. Com cinco anos notei que era igual a todos.
O vestido pode ser de cetim. Pode ser de algodão. Pode nem ser vestido. E mesmo assim tem aquele tom de uma igualdade em todas as meninas de cinco anos. Em todas as mulheres de 24. Em todas as velhinhas, conversando nas ruas, ou trancadas nas suas casas. Todas com o mesmo sorriso simpático ou não. Igualmente a todos.

Pedaços

Aos montes. Aos poucos. Caindo todos no chão e se espalhando com outros. Uma confusão. Entre cores, o preto e o branco. As palavras se amontoando num dicionário de picados. Significados ganham nomes e eu ganhei na loteria com os números do papel picotado. Eu ganhei um telefone. Um telefonema depois. Estava com a vida ganha por um monte de lixo. E o que eu poderia aproveitar daquilo. Além da distração de picar papéis e juntar papéis. Na verdade o que eu poderia imaginar vendo tudo aquilo no chão. Mais faxina depois do trabalho. Depois de gastar meu tempo picando papéis. Gastar meu tempo juntando papéis. Ficar mais calma e tentar não rasgar a minha vida.