sexta-feira, 23 de setembro de 2011

For a minute there, I lost myself, I lost myself

Eu não consigo entender qual o meu lugar. Onde fui colocada e onde devo estar. Andando como sempre, tropeçando nos próprios pés e tentando dar sentido. Nunca fui das que não sentem nada, nem das que sentem pouco. O que me machuca, me despedaça. O que me alegra, me explode. Quando não tenho por onde extravasar, enlouqueço.
Vou por onde não se deve ir, mesmo sabendo disso. Minha teimosia é minha estrada. E escolhi andar pelo pior sentido. Por amor a dor, ou por ser idiota. O meu destino não veio pronto, foi eu que quis jogá-lo ladeira abaixo. Então, não sinto pena de mim. Mas me disseram certa vez "dor não fala, só sente", comigo não é diferente.
Geralmente nem sei o que tenho de errado e sei que "o que se quebra, não se conserta". Não tento juntar meus pedaços, senão levaria minha vida toda nisso. Se deu merda, então "tá bom...". O que posso fazer? Tem coisas que não dá pra escolher ou simplesmente governar. Aquelas coisas como "você pode ser quem você quiser, ou fazer o que quiser" não é verdade. Há coisas que você não quis, mas...
Então, é mais simples deixar que essas coisas te levem? Não consigo aceitar isso, engolir isso. Não consigo simplesmente deixar aquilo acontecer com aquele ar de "não me importo". Eu me importo e não aceito. Entro em contradição, não consigo pensar racionalmente. Não consigo largar aquela coisa que me machuca por mais que saiba que isso é como "brincar com fogo", uma hora ou outra alguém perde um olho. E aí? E aí que nada. Nada acontece.

" Just 'cause you feel it Doesn't mean it´s there... "

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Woodpecker Lullaby

Um pica-pau travesso um dia, estava cutucando as árvores
arruinando a floresta, matando as árvores
O antigo Deus da Floresta
tinha transformado seu pobre bico em uma faca com veneno
Pobre pequeno pica-pau
onde ele bicava ficava contaminado com seu terrível veneno
Ele bicava seus amigos, e eles morriam, caindo aos seus pés
Triste pequeno pica-pau
Lágrimas venenosas, brilhando intensamente, escorriam pelo seu rosto

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu sei, eu só deliro...

Palavras de loucura soam melhor em silêncio. Palavras e loucura e pensamentos não combinam com meu vestido amarelo. Essa loucura toda só me deixa a deriva em volta do que eu realmente quero. E quando quero nem penso. Me jogo. E como boneca de pano... Bonecas de pano sempre sobrevivem a queda. Costuras e remendos e velhos olhos novos. Estou pronta para um novo início feito de retalhos encardidos. Porque tudo me parece um grande ciclo. Uma grande roda gigante enfeitada de luzes de cores profundas... ou talvez sejam só meus olhos que se aprofundam em cores e luzes. Elas parecem mais interessantes desfocadas. No meu enfoque desfocado. Luzes são profundas e cores num mar de luzes.
E voltamos novamente a loucura. Aquela que se escorre sobre mim. E que me faz sentir assim. Ou quem sabe seja só eu tentando fazer sentido em algo. Perante um todo sou apenas mais uma a andar na contramão. São muitos os estranhos assim como eu. Diferentes de mim. Em contradição a contramão é só mais um caminho a seguir. As roupas minhas guardadas em um guarda-roupa desconhecido. E o meu cheiro no pescoço de um homem que nem sequer sabe o meu nome. O meu perfume não é meu. As minhas roupas estão na vitrine e quem quiser pode ir comprar. E é claro que a vendedora não irá mencionar o meu nome. Não me usará para fazer uma propaganda. É para isso que servem as modelos.
Embora eu seja mais uma. Fico com esse ar de ser diferente. E escrevo como se fosse diferente. E me comparam com um ou outro. E dizem que minhas frases são adaptações de um terceiro. E eu me esforço, porém acho que é realmente em vão. Até tento falar diferente. Mas a maneira que falo me denuncia e me coloca no meu grupo de estranhos comuns. Embora ache que não pareço muito com eles, insistem em dizer que sim. E quando digo que não, escuto mais vozes dizendo que não. O sim. O não. Não há escapatória para mim. Sou alguém. Mais um alguém a fazer parte disso. Mesmo que não queira. Outros também não querem.

Arpejo

O meu arpejo me cercou. O agora em notas que me envolvem e me tocam em acordes que me envergonham. É voz em tom suave que chega perto do ouvido. Eu a ouvir os teus cantos. Se me enlaço em teus braços é pra não cair em prantos.
A minha vida é ligada a tua por fios invisíveis. Assim prefiro. Fios que não sejam notados. Meu ponto fraco. Minhas notas agudas e graves... retiradas de mim em um só toque. Toque de novo a mesma canção. Aquela que já estamos cansados de ouvir.
O cansaço me faz lembrar que nossos dias são muitos, embora poucos se estendam, poucos se emendam. Fios amarrados e fios a fazer cócegas é assim que será. Meu pescoço enlaçado. Vermelho te chama a atenção. Mas sei que prefere algo como branco. Puro. Leve. Como deveria ser as minhas mãos a tocar algo. Uma sonata para um piano.
Mas não sei tocar nada. Nem ao menos te tocar. Quando toco não sei se devo ser intensa ou preguiçosa. Se te deixo em sono. Me preocupo que durma. Embora queira que durma em meus braços. Embora pense em acordar nos teus. Mas sono assim nessas horas me deixa em agonia. Me deixa mais que inquieta. As horas passam sem que eu sinta. E eu sinto apenas a tua falta.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O som do silêncio

Olá escuridão, minha velha amiga
Eu vim para conversar contigo novamente
Por causa de uma visão que se aproxima suavemente
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo
E a visão que foi plantada em meu cérebro
Ainda permanece
Entre o som do silêncio

Em sonhos agitados eu caminho só
Em ruas estreitas de paralelepípedos
Sob a auréola de uma lamparina de rua
Virei meu colarinho para proteger do frio e umidade
Quando meus olhos foram apunhalados pelo lampejo de uma luz de néon
Que rachou a noite
E tocou o som do silêncio

E na luz nua eu vi
Dez mil pessoas talvez mais
Pessoas conversando sem falar
Pessoas ouvindo sem escutar
Pessoas escrevendo canções que vozes jamais compartilharam
Ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio

"Tolos," eu disse, "vocês não sabem"
O silêncio como um câncer que cresce
Ouçam minhas palavras que eu posso lhes ensinar
Tomem meus braços que eu posso lhes estender"
Mas minhas palavras
Como silenciosas gotas de chuva caíram
E ecoaram no poço do silêncio

E as pessoas curvaram-se e rezaram
Ao Deus de néon que elas criaram
E um sinal faiscou o seu aviso
Nas palavras que estavam se formando
E o sinal disse, "As palavras dos profetas estão escritas nas paredes do metrô
E corredores de habitações"
E sussurraram no som do silêncio

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Atividade matinal

Coloquei minha vida na vitrine para ver quantos paravam. Como se fossem cegos eles continuavam andando como cegos. Pisando e passando. Não olhando e não ouvindo. Não se aglomeravam apenas fluíam e desciam. Pelas ruas. Em passos largos e inseguros. E eu ali parada segurando minha vida para ser vista. Ninguém escutava. Eu também pensava. Eu também não pararia.
Eu tive cinco anos um dia. Assim como todos que tiveram seus cinco anos. Nem era diferente da maioria. Vestia roupas de menina, pois era menina. Conversava com meninas, porque era menina. E tentava me comportar como menina. Não bagunçar para não suar. Sentar retinho e não falar palavrões. Fiz cinco anos como a maioria faria. Festa de aniversário. Bolo e parabéns. Com cinco anos notei que era igual a todos.
O vestido pode ser de cetim. Pode ser de algodão. Pode nem ser vestido. E mesmo assim tem aquele tom de uma igualdade em todas as meninas de cinco anos. Em todas as mulheres de 24. Em todas as velhinhas, conversando nas ruas, ou trancadas nas suas casas. Todas com o mesmo sorriso simpático ou não. Igualmente a todos.

Pedaços

Aos montes. Aos poucos. Caindo todos no chão e se espalhando com outros. Uma confusão. Entre cores, o preto e o branco. As palavras se amontoando num dicionário de picados. Significados ganham nomes e eu ganhei na loteria com os números do papel picotado. Eu ganhei um telefone. Um telefonema depois. Estava com a vida ganha por um monte de lixo. E o que eu poderia aproveitar daquilo. Além da distração de picar papéis e juntar papéis. Na verdade o que eu poderia imaginar vendo tudo aquilo no chão. Mais faxina depois do trabalho. Depois de gastar meu tempo picando papéis. Gastar meu tempo juntando papéis. Ficar mais calma e tentar não rasgar a minha vida.