domingo, 20 de junho de 2010

Por amor a si

Rosas vermelhas na cama. Em menos de uma semana estariam murchas. Em menos de dois dias seriam esquecidas. Jogadas sobre alguma mesa. Dentro de algum jarro. No aparelho sanitário. Sem criar raízes. Vínculos e fungos.

Mais bonitas em outra cama. Entre outros lençóis. Não combinam com a cor das paredes. Não perfumam o ambiente. Presente. Melhor dar a alguém. Combinavam com os olhos de Carolina. Sim, combinavam com os olhos dela. Talvez durassem mais sobre o olhar castanho-avermelhado.

Uma semana ou mais. Quem sabe um jarro grande. Numa mesa de jantar. Atenções e elogios. “Rosas bonitas. Quem te deu?” Orgulharia a qualquer um. Seria dona do crédito de dar rosas bonitas. Um obrigado. Um sorriso. Um comentário. Ficariam bem melhores. Ela e as rosas. Carolina e as rosas. Um grande presente.

Mas Carolina tinha marido. Carolina tinha Gustavo. Gustavo sempre trazia algo para a mulher. Diversas rosas. Diversas cores. Diversos presentes e elogios. E Carolina se derretia. Não seria nada a fazer diferença. Rosas vermelhas entre outras. Entre tantas outras vermelhas. Eram apenas mais rosas. Nem seria uma grande surpresa. E os elogios não seriam mais presentes. O que é natural passa despercebido.

Mas aquilo não seria natural para Gustavo. Um tanto ciumento. Um tanto inseguro. Perguntaria engolindo dois goles de paciência: “Quem te deu isso?”. E Gustavo nunca acreditaria. E Carolina ficaria nervosa. Enrolaria as palavras. Enrolaria as mãos entre as rosas. Os espinhos a furar a pele. E ela, desconcertada, a jogar rosas mais vermelhas no lixo. Tentando agradar o marido. Tentando acalmar sua impaciência com beijos.

Então é melhor não. Melhor achar outro alguém. Colocar na porta de um desconhecido. Passar adiante, antes que o tempo passe. Antes que fiquem murchas. Antes que morram sobre sua cama. Sem criar as raízes necessárias. Sem receber os elogios que mereciam. Mas Maria não sabia. O que faria?

As rosas não combinavam. Ela e as rosas. Uma sem poder agradar a outra. E agora elas ali sobre sua cama a colorir os seus lençóis de uma maneira quase invasiva. E Maria não sabia o que era necessário. O que seria necessário para ela mesma aceitar. Ela mesma querer as rosas que haviam sido dadas a ela por ela mesma.

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